segunda-feira, 25 de maio de 2009

Todas noites antes de dormir

TODAS NOITES ANTES DE DORMIR imaginava como seria a morte de Fernando Moreira. Projetava cada detalhe meticulosamente.

Cianureto na bebida. Acidente fatal em atropelamento. Morte por asfixia. Um balaço na cabeça.

Há muitas possibilidades de matar alguém. Basta você começar a odiar o sujeito, odiar, odiar, odiar... e aí você cria uma úlcera em seu estômago e vai abrindo essa ferida e odiando cada vez mais esse sujeito. E não tem como voltar atrás. Você tem que eliminar o indivíduo.

É mais uma das intermináveis noites.

As imagens vêm e vão tomando conta do meu corpo, da minha mente..

Restaurante. Qual é o cardápio? Muitas opções. Aconitina, cianureto, estricnina...

Um grito de assalto e cinco tiros à queima-roupa. Bate-boca, contenda, uma pistola semi-automática e um tiro certeiro no rosto. Encéfalo dilacerado.

Fernando Moreira.eliminá-lo é fundamental. Erva daninha. Arrancá-lo e queimá-lo, um mal necessário.

Preciso dormir, mas não consigo.

Uísque com Lexotan. Muitas doses... e imagens intensas.

Fazer a encomenda. Uísque...

Demarcar o lugar. Uísque...

Um tal de Ramón, o castelhano. Uísque...

O pistoleiro. Uísque...

Aparelho de telefone.

Ouço um zumbido. Meus dedos trêmulos tocam as teclas do aparelho. Do outro lado da linha uma voz seca, firme, decidida.

Tomo mais uma dose de uísque...

Vejo Fernando Moreira cair do vigésimo andar do edifício.

Ele cai em câmera lenta...

Negocio com o pistoleiro. Tudo gira. Parece que o uísque faz o cérebro andar lentamente.

Ouço alguma coisa sobre hora, local e data do crime.

Fernando Moreira tem pouco tempo de vida.

Imagens confusas... escuridão...

...

Acordo com o interfone chamando.

É Ramón, o pistoleiro.

Minha cabeça parece um tambor. Um tambor com batidas ininterruptas...

E dói a cabeça.

Ressaca...

Tiro o fone do gancho e digo para ele subir.

Penso que os dias de tortura já estão chegando ao fim.

Passos sinistros no corredor. A campainha toca. Abro a porta.

Um sujeito magro, quase dois metros de altura, bigode tipo mexicano. Nariz aquilino e olhos cobertos pelas sobrancelhas. Terno preto, casaco preto e botas pretas.

Entre, por favor.

Ele olha para o relógio, conferindo as horas. Caminha com decisão. Para encarando-me profundamente, profetizando meu destino.

Não é necessário, ele diz com fixidez. Olhar duro, cruel.

Como?, pergunto sentindo uma fraqueza em meu corpo, moleza nas pernas.

Chega de visões, ódios ou úlcera, disse o pistoleiro, apontando uma arma para mim e ao mesmo tempo me empurrando para a sacada do apartamento.

Aos poucos as imagens vêm e vão tomando conta de minha mente...

O que era fantasia torna-se real.

Estou caindo do vigésimo andar...Em câmera lenta...


Um comentário:

  1. mUItO bom esse cONtO Tah DE PARAbEn cOntInua AsSim qUe vC tEm FuTuRo pArAbEnS


    mArcos A. sChmIDt toledo.pR

    marcos_schmidt36@hotmail.com

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