Não sei quanto tempo faz que não me alimento. Mais de 48 horas? E o estômago vazio já pede alguma coisa. Mesmo com o fígado rejeitando, o que eu mais quero agora é beber algo forte. Qualquer porcaria serve.
Caminho com dificuldade nesse formigueiro da Voluntários da Pátria. Essa gente me cansa. Sem falar dos pobres-diabos que se arrastam pela calçada, e que me olham como se eu fizesse parte dessa raça.
E não bastasse esses desprezíveis, ainda tenho de ouvir “Fábrica-de-calcinha, vale-vale-vale-vale, compro-vendo-ouro, corte-de-cabelo, piercing-tatuagem, vale-vale-vale-vale...”
Gritaria que não acaba mais.
Não sei até onde consigo chegar. Até onde minhas pernas me levam. Quanto minha cabeça aguenta.
Zonzo, muito zonzo...
BUMMM!!!
Estrondo!...
Com o choque do encontrão que recebo, não sei de quem, caio sobre uma banca de cds e dvs piratas.
“Putaqueopariu!,” diz alguém.
“Tu destruiu minha mesa e quebrou os cds e dvds, seu puto, desgraçado!”, grita o dono da banca.
Tudo gira em volta. Levanto com dificuldade e caio outra vez. Fico estendido no chão.
“O cara que esbarrou nele assaltou aquela loja ali”, fala uma voz queixosa.
“Ele estava junto com o assaltante”, grita um falso delator.
“Ninguém vai ajudar esse homem?”, pergunta um indivíduo complacente.
Não sei de onde essa energia, mas levanto e saio em disparada ao Mercado Público.
Terminal Parobé. Olho para trás e percebo que não fui seguido.
Ônibus. Pessoas. Música...
Largo Glênio Peres. Chalé.
Preciso beber alguma coisa. Tosse. Tosse. Tosse.
Música do Chalé: “Eu não sei dizer/ o que quer dizer/ o que vou dizer/ eu amo você/ mas não sei o que....”
Largo Glênio Peres. Um homem de terno e gravata, com uma Bíblia na mão: “Glória, glória, glória, aleluia... louvemos ao Senhor...”
As músicas se misturam na minha cabeça. Começo a ficar atordoado...
Alguém me abraça com muita força. A lâmina rasga o meu peito... A dor é intensa...
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