sábado, 8 de agosto de 2009

A Gata de Botas


"Não vemos as coisas como elas são,
mas sim como nós somos."
Anaïs Nin

Estávamos no Bar Chopp Naval bebendo a exótica Barrolda (elaborada com zimbro e destilados) e comendo bolinhos de bacalhau com pimenta. De vez em quando Bianca olhava para os quadros das paredes, as fotografias de gente famosa e retornava os olhos para mim.

Era um olhar que falava mais que palavras. Era provocante.

Nos lábios, o batom vermelho insinuante. Pele morena e de óculos. Os cabelos escorridos nos ombros. As botas de salto alto e cano longo. Sedutora.

Terceira Barrolda e a reciprocidade do nosso olhar. Somos todo desejo. E falo com ela de desejo, paixão e fantasia. E nestas circunstâncias de um final de tarde de Porto Alegre, anseio sentir o mais profundo prazer com Bianca.

“Estou com vontade de beijar todo o teu corpo e...”, eu disse pra ela.

Pausa. Depois tomei o restante da quinta Barrolda.

“Quê mais?!”, ela sorriu maliciosamente.

“Tudo”, eu disse. Já não aguentava mais. Ela continuou sorrindo. Sempre sorria. Estava feliz. Estávamos felizes.

“Vamos pro motel”, eu falei com tanta vontade.

“Agora?” Ela pergunta como se eu precisasse convidar ou argumentar várias vezes.

“Sim... Motel...”

Saímos do Naval. Tomamos um táxi direto para o Motel Botafogo.

***

No Botafogo, enquanto eu ia ligando o ar quente e colocando um som pra gente escutar, Bianca foi ao banheiro. Quando voltou fiquei deslumbrado ao ver aquela Gata de Botas em que Bianca se transformara.

Felina. Sutiã, calcinha, rabinho, focinho, tudo de gata. E com aquelas botas de salto alto e cano longo. Desfilava pelo quarto miando como uma gata no cio.

Fiquei completamente louco. Fora de controle.

Ela me empurrou pra cama.

“Fique quietinho aí que vou desligar nossos celulares”, ela disse saindo imediatamente dali.

Voltou com o meu celular na mão, sem a fantasia de gata, gritando, xingando...

“Quem é essa vagabunda?” Ela perguntou com raiva.

“Que vagabunda, meu amor?” Eu quis saber.

“Essa tal de Laura.” Ela disse com um olhar sagaz.

“É a estagiária lá da firma. Eu sou o chefe dela. Eu já te falei sobre isso, esqueceu meu amor?” Eu disse querendo convencê-la de que não tinha nada de mal nisso.

Eu e Bianca ficamos desfiando aquele rosário de interjeições. Então me aproximei dela, a abracei com ternura, esfreguei meu rosto no rosto de Bianca e senti a lágrima salgada nos meus lábios. Beijei Bianca intensamente. Ela quase não conseguia respirar.

Depois daquele beijo, Bianca levantou da cama e foi ao banheiro. Voltou com a fantasia de gata e sorriu.

“Vem minha Gata de Botas, vem...” Eu disse, já deitado na cama, com as luzes de boate em volta.

“Que mais que eu sou?”

“Minha boceta de botas”, eu disse.

Bianca veio e foi uma loucura. O coro de gritos como pano de fundo e sonoplastia. E posições e gemidos e Kama Sutra e Gata de Botas e Boceta de Botas e Meu Tesão e Minha Fêmea e Meu Macho e Secreções e Substâncias do Amor, Meu Amor, Meu Amor, Nosso Amor...

Um comentário:

  1. Excitante!
    tanto este conto, como os teus outros - da categoria erótica, são muito excitantes...
    bem escritos, com ritmo interessante, personagens e cenas sedutoras: uma delícia!

    "ficamos desfiando aquele rosário de interjeições" - revela a tua alta habilidade em utilizar figuras de linguagem, de maneira muito eficiente.

    meus parabéns pela destreza com a qual articula as palavras tão bem dispostas ao longo de tuas frases e histórias!!!
    Feliz da Gata de Botas...
    ;)

    ResponderExcluir