domingo, 30 de maio de 2010

Shakespeare, tragédias, amores

Econtrei Bianca imóvel na cama. Estava com os olhos estáticos, direcionados a um ponto fixo na parede. Não falava nem se mexia. Parecia estátua. Virgem pálida.

Sentei na beirada da cama e os meus pensamentos e levaram ao passado.

Foi no intervalo da faculdade. Eu estava indo à biblioteca, pensando nos livros que precisava pesquisar.

Distraído, esbarro numa notável menina.

Peço desculpas.

Olho com atenção para a vítima desse incidente. Vejo que está está calma e sorri para mim. Parece uma menina de uns quinze anos. Saia azul-marinho, blusa branca, meias três-quartos.

Torno a me desculpar.

Ela diz que tudo bem, que às vezes estamos no mundo da lua.

Risos.

Nossos olhares se encontram.

Perco-me nos seus olhos azuis.

Ela se apresenta como se estivesse respondendo a uma entrevista:

- Bianca, 19 anos, signo de leão, faço artes cênicas.

- Dalton, 29 anos, dublê de poeta, empresário e estudante de direito, falei, entrando na brincadeira.

Fui arrebatado pela beleza de Bianca. Atingido pela seta de Cupido. Penetrou na alma. Feriu. Infeccionou. Fiquei doente. Pela primeira vez me apaixonei de verdade.

Nunca mais consegui esquecer a bela Bianca. Todos os momentos que passamos juntos. No teatro, os ensaios nos quais eu ficava impaciente e com um torturante ciúme quando ela representava cenas íntimas.

A primeira vez que nos beijamos. Foram beijos de sugar a vida.

Nossos longos passeios pelos cinemas e barzinhos. Nossos piqueniques românticos. Jantes à luz de velas. As cartas de amor que ela me escrevia. Os poemas que eu fazia para ela.

Amei Bianca intensamente. Tanto que não percebi horas, dias, meses, anos, décadas que se passaram. Amor intenso...

Agora Bianca estava ali, linda como sempre. Sem mover um só músculo, naquela cama. O nosso ninho de amor.

Minha adorável Bianca! Não diz uma única palavra. Sem mover o maravilhoso sorriso nos lábios.

Está gélida, tesa, inerte.

Com minhas mãos trêmulas, pego Bianca nos braços.

Fale comigo, meu amor!

Shakespeare. Tragédias. Amores.

Somos tão jovens para dizer adeus...

Shakespeare. Tragédias. Amores.

Shakespeare martelando minha cabeça. Abandone-me solidão, quero meu amor de volta. Shakespeare. Tragédias. Amores.

Mil imagens em minha mente e a cabeça latejando sem parar.

Shakespeare. Tragédias. Amores.

Saio do quarto e em poucos minutos retorno com o revólver na mão.

Shakespeare. Tragédias. Amores.

Vou encontrar meu amor...

Despenco dilacerado. Começa a ficar escuro...


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