Tudo começou quando participei como representante da editora em que eu trabalhava, num congresso de biologia em Florianópolis. E lá estava ela. Morena, linda, charmosa, e de óculos. Sempre gostei de mulheres de óculos. E ela, Lídia, a bióloga, a mais bela de todas.
Teses, trabalhos e debates. No final das atividades, o professor Péricles, meu amigo e por coincidência, amigo de Lídia, nos apresenta, conversa um pouco, e sai.
Aproveito aquele momento para convidá-la para sair. Peço uma sugestão, já que ela nascera em Floripa e conhece quase todos os bares da cidade.
“Nem todos os bares, mas posso ser sua cicerone.” Ela diz sorrindo.
Chopperia Absoluto. Entre um chope e outro, ela falava do seu trabalho. A microbiologia clínica, bactérias, fungos e microcultivos. Mostrei-me interessado e entendido no assunto.
Lídia tece uma interminável trama de perguntas, mas respondo apenas que trabalho na editora - como ela já sabe -, adoro literatura, almejo ser escritor e estou deslumbrado com a sua beleza.
Ela fica um pouco ruborizada, e fala de literatura – principalmente de Cortázar –, mas o que mais gosta é de cinema. Todos os filmes do Almodóvar.
Quando ela recupera a cor, morena, tipo cuia, fala baixinho e com graça, fazendo-me perder no labirinto de suas expressões. Primeiro sorri delicadamente, depois mexe nos cabelos e me olha com tamanha profundidade nos olhos.
Rendo-me ao olhar penetrante de Lídia, e com os efeitos sedutores da bióloga, tomo a iniciativa, dando-lhe um beijo desesperado e cheio de desejos.
O resultado foi uma noite interminável, quente e prolongada, no apartamento da bióloga.
Jamais vou esquecer daquela cena maluca e deliciosa, quando nos arremessamos feito crianças na cama ampla, rolamos para várias direções enquanto nos beijávamos gulosamente. E depois labidas, sussurros, vaivém com gemidos e gozos intermináveis.
Aquele final de semana fora sublime como vários outros que se passaram. Eu estava completamente enlouquecido pela bióloga. E o meu itinerário constante, durante meses, de sexta-feira a domingo, foi de Porto Alegre à Florianópolis e vice-versa.
O tempo foi passando e a rotina tomou conta de nossas vidas como um vendaval devastador.
Nossos encontros passaram por uma fase tempestuosa. Discussões como relâmpagos em total perturbação. Parecia que tudo que era bom e intenso, havia acabado.
O vento vinha sussurrando a ausência e a distância. As reminiscências dos melhores e inesquecíveis momentos que passei com Lídia se alojaram dentro do meu peito, e a saudade era tremenda que me deixava completamente melancólico. Eu estava apaixonado pela bióloga e a queria ao meu lado.
Depois do temporal, a chuva mansa e fina trouxe uma esperança. O telefone tocou. Era ela, Lídia. Aquela voz doce e encantadora, foi mudando, ficando rouca, até ela começar a chorar. Depois do pranto ela conseguiu conter-se para dizer que precisava de mim, que me amava, que minha passagem já fora reservada antecipadamente, e que me esperava no Aeroporto de Florianópolis.
Era sexta-feira. Não pensei duas vezes. Arrumei minha mala, peguei uns livros – já que eu e Lídia tínhamos o hábito de ler, um para o outro, contos ou romances –, e fui direto ao Aeroporto Salgado Filho.
Volto no voo 01647 com as mais belas lembranças. O amor da mulher-pimenta, a minha pimentinha ardente. O corpo todo eletrizado, e as palvras de Lídia dançam em minha mente:
“Nós temos altos e baixos, meu amor”, “temos que trabalhar o desapego” e “o que importa é que nosso amor é lindo...”
Pego da pasta o livro de Florbela Espanca. A página apresenta um marca-página dourado. Leio do poema as duas últimas estrofes, e escuto a voz distante de Lídia recitando: “Passei a vida a amar e a esquecer./ Atrás do sol dum dia outro a aquecer/ As brumas dos atalhos por onde ando.../ E este amor que assim me vai fugindo/ É igual a outro amor que vai surgindo,/ Que há-de partir também... nem eu sei quando..."
Uma pequena lágrima se desprende dos meus olhos e seguida daquela, outras e mais outras vão caindo e percorrendo as faces, o nariz e a boca, dando cabo do itinerário na saliva. Molhei a página do livro. Florbela Espanca e Lídia mexeram comigo.
Decidi aceitar as inconstâncias da vida e ter Lídia, não como uma mulher, mas como todas as mulheres numa só. Assim, eu posso perder uma Lídia e encontrar outra Lídia na mesma pessoa, e em estados de espírito distintos. Para que isso seja real, preciso compreendê-la e conquistá-la sempre. Eu e Lídia, então, seremos os artistas do espetáculo da vida, vivendo as mais inusitadas fantasias.
Ari, estamos totalmente envolvidos através da ONG Nação Goytacá com a campanha Loucos Somos Nós, a princípio, uma campanha de doações para o Hospital João Vianna, que é um abrido de deficentes mentais. A seguir queremos fundamentar um projeto com ações de arte e cultura onde possamos estar discutindo a loucura, em todos os seus aspectos fundamentais.
ResponderExcluirum grande abraço
artur gomes
http://goytacity.blogspot.com
Boa esta Lídia, né mesmo amigo?
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